O Negro do Futuro: Afrofuturismo ganha destaque em evento de literatura baiana

 


O Negro do Futuro: Afrofuturismo ganha destaque em evento de literatura baiana
Foto: Reprodução / Redes Sociais

Protagonismo negro. Referências em ficção científica e futurismo. Movimento social, estético e político. Todos os aspectos anteriores, em conjunto, constituem, em resumo, o Afrofuturismo. O termo, criado pelo escritor norte-americano Mark Dery há 30 anos, vem ganhando notoriedade em território brasileiro desde 2023 e será tema de uma mesa da 4ª edição da Festa Arte e Identidade, que ocorre no Pelourinho até o próximo sábado (21). 

 

A Festa se propõe a celebrar a ancestralidade e cultura negra na literatura infanto-juvenil e receberá, para discutir o tema “Afrofuturismo: Nossa Tecnologia Ancestral”, os autores Anderson Shon, de “Estados Unidos da África”, Mariana Madelinn, de “Ânima”, e Djavan Benin, da trilogia “Ordem Macabra”. Ao Bahia Notícias, Anderson contou sobre a importância do evento e do debate no tema. 

 

Para Anderson, o debate sobre o tema demorou para chegar na cidade e a produção literária está no começo de toda a discussão. Autor de “Estados Unidos da África”, com Daniel Cesart, Shon acredita que “pensar uma África super poderosa é uma tarefa do futuro” e que sua obra ajudou a marcar a ascensão do gênero na capital baiana. A obra é finalista em três categorias do prêmio HQ Mix, considerado o Oscar dos quadrinhos brasileiros.

 

 

“Acredito que quando se for falar sobre esse gênero e a ebulição do gênero em Salvador, vão ter que falar sobre os 'Estados Unidos da África' porque pensar uma África unida, uma África a partir dessa utopia, presente para gente da ideia de fortalecimento do continente enquanto país, eu acho que tem muito dos ideais afrofuturistas”, declarou. 

 

Mais do que um termo, o Afrofuturismo está presente em diferentes segmentos artísticos, tendo referências no cinema, na música, nos quadrinhos, na moda e na literatura. Entre os exemplos mais comuns que se encaixam no movimento cultural está o sucesso “Pantera Negra” (2018), que apresentou ao mundo uma história protagonizada por um herói negro e utilizou de tecnologia e cultura ancestral africana para criar um enredo que cativou o público. 

 

Assim como em Pantera Negra, um herói negro também é o protagonista de “Estados Unidos da África”, obra de Shon em parceria com Daniel Cesart, lançada em 2023. Na história em quadrinhos, surge um super-herói africano, o Rei Bantu, que ganha poderes e unifica o continente africano, rompendo preconceitos para manter a hegemonia dos estados. Além de Anderson, outras obras por baianos encaixam-se no movimento do Afrofuturismo, como o caso da HQ “Os Afrofuturistas”, de Marcelo Lima e o romance “Ânima”, escrito Carol Vidal, Mariana Madelinn e Ricardo Santos.

 

Ao BN, Shon afirmou ainda acreditar que “qualquer autor negro de ficção especulativa tem que passear pelo afrofuturismo para fazer com que isso vire um movimento”. “Nós estamos nessa missão de fazer com que esse gênero seja mais forte aqui em Salvador”, afirmou. 

 

Para Anderson, o debate acerca do tema só se fortalecerá quando mais obras sejam produzidas na cidade, o que ainda não ocorre em quantidade no estado. O autor aponta que uma possível solução para isso seja a criação de editais e iniciativas locais para obras futuristas, como ocorreu em 2023 com o Prêmio Conceição Evaristo de Literatura Afrofuturista, organizada pela Fundação Cultural Palmares e o Ministério da Cultura.

 

Além disso, a presença do tema deve ser pensada em eventos literários organizados pelo estado. “Toda festa literária tem que começar a pensar o lugar do afrofuturismo”, afirmou. Um dos curadores da Festa Literária Internacional da Praia do Forte, realizada em maio deste ano, Anderson mediou a mesa Quadrinhos e Afrofuturismo, durante o evento. 

 

 

“Que bom que a Arte e Identidade pensou [no Afrofuturismo], que bom que a FliPF pensou, mas precisa que a Flica pense também, que a Flipelô pense também… Que todas as festas literárias entenda isso como um movimento efervescente e trazer pessoas, autorizar o afrofuturista para esses eventos, é fortalecer ainda mais”, explicou. 

 

A mesa sobre o tema acontecerá nesta sexta-feira (20), às 10h, no Museu Eugênio Teixeira Leal. Aberto ao público, o debate faz parte da programação da Festa de Arte e Literatura Negra Infantojuvenil na Bahia. Outro momento para a discussão do tema é durante o Festival Afrofuturismo, previsto para ocorrer nos dias 29 e 30 de novembro, em Salvador, durante sua sexta edição.

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